<$BlogRSDURL$>

Então não era um crime perfeito?

Thursday, July 21, 2005

Diálogo #5 

0h embaixo de um viaduto na 23 de Maio.
.- Até um tempo atr´s era eu quem passava ali.
.- É né, nos carros.
.- É, estava sempre correndo para sentir a adrenalina,
ouvir o motor roncando cada vez mais forte.
.- Sente falta?
.- Sinto sim, gosto muito disso. Mas sei que minha
realidade é outra hoje.
.- E acomodou, num pensa em novamente ter um carro
para poder fazer essas coisas?
.- Acomodar jamais, mas hoje vejo que isso não é
tão necessário.
.- Como assim? Para mim isso parece comodismo.
.- Pode até parecer, mas não é. Hoje vejo que tem
outras coisas que me dão tanto prazer quanto a
adrenalina e o barulho do motor.
.- Ah tá, mas isso é óbvio.
.- Para mim não era, antigamente para mim era esencial
eu ter meu carro para poder me levar para os lugares.
.- Você sempre foi muito materialista, né?
.- Sempre! E hoje vejo que até isso foi bom; serve de
ponto de referência para eu ver que o que eu tenho hoje
vale muito mais do que qualquer Ferrari.
0:18h, chega o ônibus.
.- O mais engraçado é que sempre passei ali de carro e
observei as pessoas que ali ficam esperando o maldito
ônibus.
E o mais engraçado é que sempre quis ficar ali esperando
o ônibus.
.- Ahhh, tá brincando, né?
.- Não, de jeito nenhum. Sempre quis estar debaixo
daquele viaduto para saber como é.
.- E como é?
.- É bom, recompensador estar ali esperando o ônibus por
quase meia hora e ver os carros passando; você vê que você
é muito mais que adrenalina e lata a sua volta.
Percebe o quanto você era fútil e não valorizava nada, nem
ninguém em sua vida, percebe a mediocridade que vivia.
.- Auto-crítica brava essa, n~eo?
.- Sempre preferi a porrada na cara aos tapinhas para
acordar. A porrada dói na hora e faz você acordar de uma vez.
Os tapinhas doem aos poucos e quando você acorda pode ser
tarde.
.- É, vendo por esse lado é verdade.
.- Sabe o que tem valor hoje para mim?
.- O que?
.- Acordar e saber que vou trabalhar, chegar no fim do mês
e saber que verei minha filha, chegar em casa e ver meus
irmãos, ligar para meus pais, estar com a Menina Magnífica e
principalmente... Eu!
.- Nossa, você não está se enganando, se condicionando a
gostar de tudo isso?
.- Não, de forma alguma. Olhe só...
Passando em frente ao ChicoHamburguer na Av. Ibirapuera.
.- Na mesma época que eu estaria passando lá de carro, a essa
hora eu provavelmente estaria aí dentro comendo.
.- E isso não era bom?
.- Foi bom tudo isso, poder viver tudo isso para hoje poder
enxergar algo que já tive e não passar a vida imaginando como
seria se eu pudesse fazer isso.
.- Vai dizer que não gostaria de continuar com tudo isso?
.- Sinceramente?
.- Claro!
.- Até gostaria, mas se pudesse escolher entre o que tenho hoje
e o que tinha há dois anos atrás... Continuo com o que eu tenho
hoje. Eu tinha detalhes, luxo; hoje tenho essência.

Monday, July 04, 2005

Diálogo #4 

.- As vezes queria voltar a ser criança.
.- Ué, mas porquê?
.- As crianças são sempre tão felizes, tão verdadeiras.
.- Mas por que isso agora?
.- Não sei, estava pensando em como mudamos com o
tempo e tentando entender o porque de todas essas
mudanças.
.- E chegou a alguma conclusão?
.- Não sei bem ao certo se o ponto ao qual cheguei é
a verdade, ou se é só mais uma das minhas falsas
certezas; mais uma daquelas que em breve terei que
repensar por ver que está errada.
.- Tá, mesmo que você a mude daqui a algum tempo,
me diga o que é.
.- Sei lá, deve ser porque as crianças não tem preocupações;
elas simplesmente não esperam nada a não ser presentes,
ir comer no restaurante que mais gostam... sei lá.
.- Ah, mas isso é meio óbvio; é claro que elas não tem
preocupações, elas têem quem faça essas coisas por elas. Quando
crescemos adquirimos responsabilidades, assumimos
compromissos, nos preocupamos em fazer as coisas do modo
correto.
.- Aí que está o erro dos adultos caramba!
Por que temos que assumir responsabilidades e nos preocupar
24h por dia em sermos corretos, em ganhar dinheiro, em ter
uma família? Por que?
.- Não sei.
.- Porque alguém falou que tinha que ser assim, e como sempre
acreditamos em coisas que nos são ditas há milênios. Droga, você
não percebe que as crianças não se preocupam com nada
simplesmente porque os pais sabem que eles tem que ensinar as
coisas para elas?
.- Nunca tinha pensado dessa forma.
.- Então, aí que está! Nós crescemos e nos acostumamos a ter
problemas para resolver, nos condicionamos a pensar em soluções
concretas para problemas muitas vezes imaginários!
Será que ninguém percebe isso?
.- Nossa que revolta.
.- E não é para se revoltar? Quem inventou essa história de dinheiro,
de poder, de problemas e soluções?
Quem foi o imbecil que fez isso?
.- Ah, mas é a ordem natural das coisas...
.- Que ordem natural que nada! Um pai morrer antes do filho é
considerado a ordem natural das coisas também, no entanto o
crontrário ocorre com frequência. A única ordem que não se altera
realmente é a da vida; tudo que é vivo nasce, cresce, dá frutos e
morre. Até a morte de uma criança recém nascida dá frutos.
.- Hahaha... aí também já é demais.
.- Claro que não, há de se aprender com tudo nessa vida.
.- Pronto, agora virouguru espírita?
.- Pára de besteira. É verdade, com tudo aprendemos; claro, se
nos dispusermos a isso. O grande problema dos adultos é que
eles deixam de sonhar com coisas belas para sonhar com
conquistas materiais, com posses; param de ver a beleza das coisas
e começam a enxergar o valor monetário delas, começam a
buscar status, não sonhos.
.- E você é diferente?
.- Aí é que está a minha revolta.

This page is powered by Blogger. Isn't yours?